Bebi demais, fiz besteira e perdi uma amiga – 01/09/2025 – Vida de Alcoólatra
Abri os olhos. Minha cabeça latejava. Aos poucos fui lembrando da véspera. O cheiro de cigarro impregnado em mim, na roupa —claro que eu não tinha tomado banho— me provocava ânsia de vômito. Fui ao banheiro, lavei o rosto e senti meu corpo inteiro doendo. Não sei por que tinha bebido tanto.
Comecei em casa. Já de pijama, eu só ia assistir a televisão e tomar algumas latinhas, mas aí o telefone tocou. Era uma amiga me chamando para um samba. A euforia proporcionada pelas três ou quatro latinhas me fez levantar correndo, vestir uma roupa qualquer e sair. O samba terminou cedo e eu emendei no boteco da esquina que ficava aberto até quase de manhã. Bebi cerveja, pinga, caipirinha…
Por que não fiquei em casa como programado? Por que não fui embora quando o samba terminou?
Nenhuma dessas perguntas era produtiva no dia seguinte. A sensação era de fim da linha. De arrependimento. O telefone tocou e era minha amiga. Lacônica. “Oi querida, tudo bem?”. Ela não respondeu e já foi emendando. “Poxa vida, Alice, eu te chamo pra ir se divertir comigo e você fica com o cara que eu estava a fim e você sabia…” PUTZ, tinha esquecido dessa parte. Fui me lembrando aos poucos que tinha dado em cima do cara que era, supostamente, o paquera dela. Fiquei péssima. Perdi uma amiga por alguns dias e o cara nunca mais apareceu.
Desliguei o telefone com a garganta seca, não sabia se pela ressaca ou pelo remorso. Me larguei no sofá da sala, com a luz do sol na minha cara me fazendo sentir ainda pior. Tudo em mim gritava: “Você estragou tudo”. Sim, talvez eu fosse mesmo essa pessoa que estraga tudo. O tipo que faz promessas a si mesma, mas não cumpre. O tipo que diz que só vai beber umas latinhas, mas perde o controle. O tipo que, mesmo sem querer, machuca quem gosta dela. Uma alcoólatra, enfim. Mas isso só fui descobrir muito tempo depois.
Peguei o celular, pensei em mandar uma mensagem. “Desculpa, amiga. Eu não sei o que deu em mim.” Mas apaguei. Eu nem sabia se ela queria me ver de novo.
Levantei do sofá e fui me arrastando para o chuveiro. A água quente no meu corpo levava embora um pouco da dor física, mas a dor emocional continuava lá, resistia. Me olhei no espelho: parecia um panda, os olhos borrados de maquiagem, a cara abatida. Era mais uma manhã de segunda-feira com gosto de fracasso. O choro viria logo em seguida.
Prometi, pela enésima vez, que não ia mais beber daquele jeito. Que ia cuidar das minhas amizades. Que ia aprender a dizer não. Que ia me conhecer melhor, entender por que sempre que algo me doía por dentro eu me jogava em festas, bebidas e no colo de qualquer homem que sorrisse pra mim. A questão sempre foi a bebida.
Não era sobre o cara. Nunca foi sobre ninguém. Era a bebida e uma carência absurda, essa vontade de ser aceita, de agradar, de não ficar sozinha. De beber horrores.
Esse tipo de acontecimento, graças a minha sobriedade, não ocorre mais. Não acordo mais de ressaca, sei muito bem o que fiz no dia anterior. Sou responsável por tudo. Mesmo que faça alguma besteira, afinal todos fazemos, vou lá e enfrento. Ah, e aprendi no AA que a gente, alcoólatra, não pode tomar o primeiro gole. Porque vem o quarto, o quinto, e aí já era.
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