Opinião: Ação do governo Trump busca proteger big techs – 28/05/2025 – Poder

Opinião: Ação Do Governo Trump Busca Proteger Big Techs - 28/05/2025 - Poder

Opinião: Ação do governo Trump busca proteger big techs – 28/05/2025 – Poder


O governo que deporta estudantes por manifestações em defesa dos palestinos e bloqueia o acesso de jornalistas que não adotam determinados termos impostos pela Casa Branca vai cassar o visto de autoridades estrangeiras que “censuram” cidadãos e empresas de tecnologia americanas.

Trata-se do mais recente episódio da liberdade de expressão quando convém, o mote do governo Trump.

Essa defesa da liberdade de expressão é, na realidade, uma defesa dos interesses econômicos dos EUA.

Por trás disso tudo, está um objetivo: impedir regulação das big techs. Em fevereiro, na Cúpula de IA na França, o vice-presidente americano, J.D. Vance, deixou claro do que se trata.

Em março, Brendan Carr, presidente da Comissão Federal de Comunicações dos EUA, afirmou que leis de tecnologia europeias violam a liberdade de expressão.

Segundo Carr, a Lei de Serviços Digitais da UE, que prevê multas para as big tech, é “incompatível com a tradição de liberdade de expressão na América e os compromissos das empresas de tecnologia de manter uma diversidade de opiniões.”

Esse é o mesmo Brendan Carr que ameaçou não aprovar a fusão da emissora de TV americana NBC se ela não respeitasse a determinação do governo Trump de desmantelar os programas de diversidade, equidade e inclusão. E que investiga a emissora CBS pela edição que o programa 60 Minutes fez de uma entrevista da então candidata democrata à Presidência, Kamala Harris.

Em fevereiro, J.D. Vance passou um recado semelhante na cúpula de IA em Paris. “O governo Trump está incomodado com relatos de que alguns governos estrangeiros estão considerando apertar o cerco sobre empresas de tecnologia americanas. A América não vai aceitar isso.”

E completou: “O governo Trump vai garantir que os sistemas de IA desenvolvidos na América não têm um viés ideológico e nunca restringirão o direito de nossos cidadãos à liberdade de expressão”.

Esse é o mesmo governo americano que revogou vistos de centenas de estudantes estrangeiros nos EUA por estarem envolvidos em atividades que supostamente vão contra os interesses americanos.

Muitos deles simplesmente manifestaram apoio a palestinos de Gaza em declarações consideradas “antissemitas” pelo governo Trump.

A Universidade Harvard teve bilhões em recursos governamentais cortados por se recusar a adequar seu currículo aos ditames do governo Trump e a passar informações detalhadas sobre seus alunos estrangeiros.

Também foi esse governo “contra censura” que impediu a entrada de repórteres da Associated Press em eventos na Casa Branca, porque a agência não quis adotar a nova nomenclatura do governo para o Golfo do México —que passou a se chamar Golfo da América por decreto. Importante lembrar que a AP tem clientes no mundo todo, onde não vale essa nova língua imposta por Trump.

Já vimos que há um amálgama entre os interesses das empresas de tecnologia e o governo Trump e que os limites entre setor público e setor privado estão cada vez mais tênues. Um bom exemplo foi a atuação do Departamento de Estado no caso Rumble versus Alexandre de Moraes.

A empresa de mídia de Trump e o Rumble entraram com ação conjunta em um tribunal federal americano contra o ministro do STF. As empresas afirmam que ordens de Moraes determinando que o Rumble fechasse a conta do influenciador bolsonarista Allan dos Santos e fornecesse seus dados de usuário violam a soberania dos Estados Unidos, a Constituição americana e as leis do país.

Dias depois, o governo americano encampou a briga. Na conta oficial de uma divisão do Departamento de Estado, afirmou que “o respeito pela soberania é uma via de mão dupla com todos os parceiros dos EUA, incluindo o Brasil”.

E disse: “Bloquear o acesso à informação e impor multas a empresas baseadas nos EUA por se recusarem a censurar pessoas que vivem nos Estados Unidos é incompatível com valores democráticos, incluindo a liberdade de expressão”.

Com o aviso desta quarta-feira (28) do secretário Marco Rubio sobre revogação de vistos de autoridades estrangeiras que praticam a censura, os EUA preparam o terreno para dizer que o governo brasileiro restringe a liberdade de expressão e retaliar com tarifas ou outros instrumentos as tentativas de impor regulação às big techs.

Vão unir o útil ao agradável: protegem suas empresas e usam de forma hipócrita a nobre defesa da liberdade de expressão, quando convém.



Fonte: Folha de São Paulo

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