Especialistas avaliam que Brasil tem possibilidade de expandir comércio
Reforma tributária e melhorias em infraestrutura e logística também podem pesar favoravelmente. “Quanto mais enxuta e eficiente for a estrutura de custos no Brasil, mais competitivo será o produto no exterior, mesmo diante de barreiras tarifárias”, pondera David Martins, sócio da neXtCapital. Ele também acredita que o país tem espaço para negociações bilaterais com outros países.
Aumentar exportações para México e países vizinhos seria outra alternativa. Stefânia avalia que o México, que também sofre com tarifas de Donald Trump, pode ampliar a compra de produtos semifaturados brasileiros —como óleo de soja e madeira serrada, por exemplo. Já a indústria do ferro fundido e transformadores pode se beneficiar com aumento das exportações para os vizinhos. Helmuth Hoffstater, CEO da Logcomex, exemplifica alguns países em que os produtos brasileiros podem ser mais bem aceitos. A carne bovina, por exemplo, pode ser exportada ao México, que já passou a comprar mais do produto brasileiro. “No primeiro semestre de 2025, eles aumentaram as compras em mais de 200% em relação ao ano passado”, relata.
África é uma região que tem um grande potencial para comércio. A opinião do professor de Economia da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) e consultor empresarial Ecio Costa é de que o continente tem aumentado a representatividade ao longo do tempo e não deve ser ignorada pelo mercado brasileiro, já que o potencial é muito grande. “Mas é importante também avançar com o acordo entre Mercosul e União Europeia, que é um mercado muito representativo, com um poder de compra muito elevado”, avalia.
Vietnã desponta como outro potencial comprador de produtos brasileiros. Carlos Rifan, presidente da Anapri (Associação Nacional dos Profissionais de Relações Internacionais) aponta que o Brasil já está fazendo isso, por meio de um plano de ação que abrange agricultura, educação, defesa e diplomacia. “O Vietnã é uma localização estratégica favorável no Sudeste Asiático, de acesso a mercados como China, Japão, Coreia do Sul e Austrália, ou seja, o Brasil nesse plano de ação, usando o Vietnã como hub, teria facilidade para chegar em outros mercados, que o Brasil já possui acordo”, afirma. A possibilidade da Indonésia entrar nos Brics também é algo visto por Rifan como positiva, uma vez que o país tem grande potencial de compra de produtos brasileiros, e também serve como ponte para outros mercados.
Negociações e diplomacia não devem ser abandonadas. Todos os especialistas ouvidos pela reportagem dizem que é praticamente impossível que o Brasil saia totalmente incólume à tarifa, caso ela entre em vigor de fato e que, por isso, a negociação para tentar evitar a taxação é fundamental para evitar um problema ainda maior. O economista Alex André, porém, aponta que o país precisa deixar de lado a ideia de não usar mais o dólar como moeda de negociação —como o presidente Lula afirmou durante a cúpula dos Brics. “O Brasil não está se aliando com países desenvolvidos, onde possui melhor tecnologia, que poderia ter a melhor cooperação de tecnologia, melhor cooperação comercial. Está indo na direção oposta”, afirmou, apesar de considerar a negociação com os Brics relevante.
Governo já estuda possibilidade de expandir fronteiras comerciais. Em pronunciamento divulgado ontem, o ministro Carlos Fávaro chamou a tarifa de “indecente” e, entre as medidas comentadas para ajudar os setores afetados, a ideia é permitir uma ampliação dos mercados já atendidos e ampliar negociações com o Oriente Médio, sul da Ásia e o que chamou de “Sul global”. “[Esses mercados] podem ser uma alternativa para as exportações brasileiras”, disse.
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