Microdose de medicamentos GLP-1 se tornou uma ‘febre’ – 05/09/2025 – Equilíbrio e Saúde

Microdose De Medicamentos Glp-1 Se Tornou Uma 'Febre' - 05/09/2025 - Equilíbrio E Saúde

Microdose de medicamentos GLP-1 se tornou uma ‘febre’ – 05/09/2025 – Equilíbrio e Saúde


Como uma avó de 62 anos nos Estados Unidos, Christine Babb não se identificava com os “biohackers”, aqueles que experimentam medicamentos para otimizar a saúde e a longevidade. Mas depois que teve efeitos colaterais de primeira dose de um medicamento para perda de peso, ela decidiu experimentar.

Em junho, ela preparou uma seringa do medicamento GLP-1 tirzepatida com apenas 40% da dose inicial padrão. Os efeitos colaterais que sentiu —constipação e fadiga extrema— desapareceram com a injeção menor, enquanto sua pressão arterial, dor nas articulações e inflamação melhoraram. Essa experiência, juntamente com a leitura de estudos sobre o potencial dos medicamentos GLP-1 para proteger a saúde cerebral, convenceu Babb a tomar uma pequena dose na tentativa de afastar doenças que surgem com a idade.

Praticamente não há evidência científica publicada que comprove que tomar doses menores que o padrão de tirzepatida ou semaglutida seja seguro ou eficaz. Mas isso não impediu pacientes como Babb de experimentar doses não padronizadas por uma variedade de razões, incluindo expectativas de melhoria do bem-estar e longevidade.

Empresas de telemedicina estão cada vez mais comercializando “microdoses” de medicamentos GLP-1, atendendo ao crescente interesse. O fenômeno mostra como os consumidores estão recorrendo às redes sociais e fontes comerciais na internet para experimentar formas não ortodoxas de melhorar sua saúde, antecipando-se à medicina convencional.

O Washington Post encontrou pelo menos 15 empresas de telemedicina e clínicas médicas em todo o país que promovem microdoses de medicamentos GLP-1 para longevidade. Esse é um subconjunto menor de empresas que comercializam doses minúsculas para perda de peso, uma estratégia que também não é comprovada.

“Isso é uma febre agora, e não é fundamentado”, diz o cardiologista Eric Topol. Ainda assim, Topol vê potencial nas pesquisas em andamento para medicamentos GLP-1—nomeados pelo hormônio que estimulam— para tratar doenças relacionadas à idade.

Estudos usando doses padrão desses remédios revelaram uma conexão entre o cérebro e o intestino, onde o hormônio é naturalmente produzido. Isso ajudou a explicar como o aumento da produção de GLP-1 induz o cérebro a enviar um sinal para reduzir a inflamação em todo o corpo.

Também há evidências de que estimular o hormônio pode proteger contra a inflamação no próprio cérebro, que está ligada ao Alzheimer e Parkinson.

Em entrevistas, pacientes e profissionais médicos dizem ter visto benefícios reais na microdose. Tomar menos medicamento, eles acreditam, também deve reduzir os efeitos colaterais gastrointestinais que são comuns com medicamentos GLP-1. Também é inegavelmente mais barato usar menos dos medicamentos de marca, que têm preços de tabela acima de US$ 1.000 (mais de R$ 5.000) por mês.

Mas experiências anedóticas de pacientes, fora de ensaios clínicos controlados, não provam que o microdose funciona, dizem os cientistas. Daniel Drucker, professor da Universidade de Toronto, cuja pesquisa tem sido citada para apoiar o movimento, diz que é incerto se tais doses realmente combateriam a inflamação.

Do burburinho ao negócio

Para as empresas que foram pioneiras nos medicamentos GLP-1 mais populares, Novo Nordisk e Eli Lilly, a tendência é o mais recente sinal de como suas inovações estão sendo reaproveitadas além dos usos sancionados pelo governo.

É possível tomar doses menores que o padrão com canetas, mas muitos pacientes estão obtendo seus medicamentos de farmácias de manipulação, grandes fornecedores de versões imitativas de medicamentos GLP-1. Essa prática deveria ter terminado no início deste ano, depois que a FDA (agência reguladora dos EUA) declarou que não havia mais escassez dos medicamentos de marca, mas farmácias e clínicas médicas abriram uma nova frente argumentando que estão “personalizando” o medicamento para atender às necessidades de pacientes individuais.

Eli Lilly e Novo Nordisk estão reagindo agressivamente a essa abordagem em processos judiciais, argumentando que as empresas estão prescrevendo em massa versões manipuladas de seus medicamentos sob o pretexto de personalizá-los.

“A Lilly não possui dados sobre os benefícios ou riscos da microdose de Zepbound ou Mounjaro”, disse a empresa, acrescentando que os frascos de seu medicamento não contêm conservantes e são apenas para uso único.

“Estamos profundamente preocupados com empresas que promovem e vendem versões falsificadas não aprovadas pela FDA de ‘semaglutida’ e fontes que espalham desinformação sobre GLP-1s para o público”, disse a Novo Nordisk em comunicado.

Executivos da AgelessRx, uma empresa de telemedicina focada em longevidade, notaram as conversas online sobre microdose e decidiu lançar um estudo com seus pacientes tomando pequenas doses de semaglutida para dor, humor e várias medidas laboratoriais, registrando-o em um banco de dados nacional para ensaios clínicos. No meio do estudo, a AgelessRx decidiu que os pacientes estavam relatando benefícios suficientes —como melhor regulação do açúcar no sangue— para oferecer uma opção de microdose em sua plataforma.

Não há acordo universal sobre o que é uma microdose. Para a AgelessRx, varia entre um quinto da dose inicial de semaglutida até uma quantidade que está comercialmente disponível nas canetas da Novo Nordisk.



Fonte: Folha de São Paulo

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